Brasil tem apoio de mais de 80 países para fim de combustíveis fósseis

Plateia e autoridades durante evento na COP30, em Belém, com representantes de diversos países reunidos no palco.
Evento na COP30 formalizou o apoio de mais de 80 países ao mapa do caminho proposto pelo Brasil para abandonar combustíveis fósseis.
Rafael Cardoso – Enviado especial

Representantes ministeriais de mais de 80 países declararam apoio oficial a um mapa do caminho para longe dos combustíveis fósseis proposto pelo Brasil, segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. O anúncio ocorreu nesta terça-feira (18) durante o evento Mutirão Call for a Fossil Fuel Roadmap, que reuniu uma coalizão de países do Norte e do Sul Global.

Mapa do caminho ou roadmap (em inglês) é o conceito usado para falar de planos de ação que estabelecem etapas e metas para um determinado objetivo.

A proposta ganhou força no início da Cúpula de Líderes da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), quando o presidente Lula convocou os países para construir um calendário global de abandono do petróleo, gás natural e carvão mineral.

Os nomes de todos os países ainda não foram divulgados, mas, no anúncio do apoio, falaram representantes da Alemanha, Dinamarca, Reino Unido, Quênia, Serra Leoa e Ilhas Marshall.

O secretário de Estado do Reino Unido, Ed Miliband, reforçou que se trata de uma mobilização inédita.

“Essa é uma grande coalizão do Sul Global e do Norte Global, todos dizendo em uma só voz que esse é um problema que não pode ser ignorado, não pode ser jogado para baixo do tapete. Nós temos uma oportunidade ao longo dos próximos dias para fazer da COP30 o momento de seguir em frente na transição para longe dos combustíveis fósseis”, disse Miliband.

Para países altamente vulneráveis, como Serra Leoa, o debate é uma questão de sobrevivência, alertou o ministro Jiwoh Abdulai.

“Para países como Serra leoa, que é um dos mais vulneráveis no mundo, o aumento de 1,5ºC na temperatura global é uma questão de sobrevivência. Não é só uma questão climática. É sobre nossa existência. Também é um problema econômico. Nós estamos chegando ao ponto de que o custo da adaptação está crescendo muito mais rápido do que podemos alcançar”, disse Abdulai.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, celebrou o apoio e disse que é preciso colocar em prática efetivamente as promessas.

“Esses países mostram disposição de fortalecimento do multilateralismo climático, disposição de fazer o que se espera há mais de 30 anos, que é dar o devido encaminhamento para a principal causa do aquecimento do planeta. que é a emissão de CO₂. Sobretudo, a queima de petróleo, gás e carvão. Mas isso não se resolve como mágica. É preciso financiamento, diversificação econômica, que se multipliquem as bases tecnológicas, para a gente fazer esse percurso. Estamos há 30 anos atrasados, mas temos pressa”, disse Marina.

Marcelle Oliveira, jovem campeã do clima da COP30, destacou o protagonismo das novas gerações.

“Essa é uma prioridade absoluta como vocês podem ver ao redor com os exemplos a partir da intervenção nas Blue e Green Zone. E também na marcha liderada pela Cúpula dos Povos, que levou milhares de pessoas para as ruas em Belém. Para proteger nosso futuro e proteger o presente, nós precisamos do espírito de ação. Precisamos de um mundo novo, de uma economia nova, uma nova cultura”, disse Marcelle.

Marcio Astrini, do Observatório do Clima, avaliou que a proposta brasileira consolidou amplo apoio internacional.

“O que vimos hoje é que boa parte de quem estava na plateia ouvindo esse discurso subiu no palco junto com o presidente, apoia a mesma ideia e faz coro ao mesmo pedido. São mais de 80 países que querem ver como resolução desse encontro justamente esse mapa do caminho para longe dos fósseis”, disse Astrini.

Mas, enquanto autoridades celebravam o avanço diplomático, organizações territoriais e movimentos sociais denunciaram que a construção do roteiro global ignora justamente quem vive as consequências diretas da infraestrutura fóssil. Em nota, o Instituto Internacional Arayara disse que há uma contradição central entre o discurso do mapa do caminho e a realidade das comunidades afetadas, como indígenas, quilombolas e povos tradicionais.

“Um mutirão que é feito apenas por líderes de Estado, sem a presença das lideranças comunitárias, não é capaz de refletir a sabedoria de quem está no território, não consegue sanar suas dores e promover justiça climática. Fica, portanto, incompleto”, diz nota do instituto.

RELACIONADOS

Funcionários dos Correios organizam encomendas em carrinhos amarelos dentro de um centro de triagem.

Correios aprovam demissão voluntária e fechamento de agências

Agência Brasil – Os Correios aprovaram um plano de…
Alexandre Ramagem fala ao microfone durante sessão, com outro integrante da mesa ao fundo.

Moraes determina prisão de Ramagem após deputado ser visto em Miami

Agência Brasil – O ministro Alexandre de Moraes, do…
Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva apertam as mãos em encontro oficial, com bandeiras dos Estados Unidos e do Brasil ao fundo.

Trump retira tarifa de 40% sobre produtos do Brasil como café e carne

Agência Brasil – O presidente dos Estados Unidos, Donald…
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado de Jorge Messias em foto oficial no Palácio do Planalto.

Lula indica Messias para vaga de Barroso no STF

Agência Brasil – O presidente Luiz Inácio Lula da…

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Mulheres trabalhando em salão de beleza, com profissionais atendendo clientes em diferentes estações.

Apenas um em cada quatro trabalhadores por conta própria tem CNPJ

Bruno de Freitas Moura – Repórter da Agência Brasil…
Pessoa sentada no sofá usando notebook no colo enquanto segura uma caneca com a outra mão.

Proporção de quem estava em home office recua em 2024 e chega a 7,9%

Bruno de Freitas Moura – Repórter da Agência Brasil…
Cão com coleira em área de embarque de aeroporto, com pessoas ao fundo.

STF suspende lei sobre transporte aéreo de animais de apoio emocional

André Richter – Repórter da Agência Brasil O Supremo…
Vitrine de loja com bolsas e acessórios expostos e letreiro “Friday” em neon rosa.

Black Friday deve movimentar R$ 5,4 bilhões no comércio do país

Bruno de Freitas Moura – Repórter da Agência Brasil…